sábado, 28 de setembro de 2013

D12 - Filosofia das Muletas

Hoje foi o primeiro dia que sai de casa com uma só muleta. E andando dentro da piscina tive diversos pensamentos sobre as muletas.

A vida tem muito a ver com as muletas. As muletas são fundamentais para a recuperação do paciente. Num primeiro momento sem elas é impossível se movimentar. Graças às muletas é possível sair da cama. E saindo da cama é possível olhar para o mundo. Ter um pouco mais de vida. Porém com o tempo uma muleta começa a atrapalhar mais do que ajudar. É hora da perna começar a funcionar e evoluir. Somente sem a muleta ela consegue progredir. E aí vai. A vida vai evoluindo e torna-se desnecessária a segunda muleta.

Bom, e aí? E a vida?

Os nossos filhos são os pacientes e nós, os pais, somos as muletas. Todos nós mesmo não sendo pais somos ou seremos muletas um dia. Até ai tudo bem também. Mas o que eu acho é que as pessoas não se tocam que a coisa mais importante da função de muleta, obviamente além de dar apoio, é saber a hora de sair. Muitas vezes o próprio paciente não quer largar as muletas. E aí a muleta tem que saber sair de cena. Saber se afastar o suficiente para o paciente evoluir sozinho mas não solitário.

Outra situação são as muletas que se sentem menosprezadas ao serem largadas. Elas tem dificuldade de entender que a sua ausência é mais importante que a sua presença.

E ainda tem mais. São duas muletas e uma precisa sair antes do que a outra. Elas são bem diferentes apesar de iguais. E ambas são importantes. Mas tem importâncias diferentes. A muleta que sai antes não deve se sentir menosprezada em relação a muleta que fica.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

D11 - A Fisioterapia

Ontem dormi sem a tala depois de 10 dias. Achei que seria uma noite maravilhosa de libertação. Que nada...a tala trazia segurança. Sem ela as posições doiam e eram estranhas. Além disso ainda paguei o pelo esquecimento dos remédios.

Mesmo depois de uma noite não tão boa. Hoje foi o dia a virada. Acho que foi até hoje o dia do salto na minha recuperação.

Andar na piscina de manhã foi minha primeira atividade. Foram 30 minutos de liberdade e leveza. Que sensação de conforto traz o envolvimento da água que sustenta. Há dez dias não sabia o que era andar sem muletas mas água iniciou minha  reeducação.

De tarde chegou a hora da minha tão aguardada fisioterapia com a Fernanda. Achei que ela não ficou muito animada com o que viu no início pelo inchaço e a falta dos movimentos. Mas acho que no final ela viu a evolução naqueles preciosos minutos que sinalizaram o início da virada.

Sai dali com uma nova consciência corporal. Minha pisada estava cada vez mais firme. Os movimentos cada vez mais inteiros. Milagre? Que nada...ciência, técnica, suor, dor, força física e de vontade num conjunto único do terapeuta e seu paciente.

Andei mais leve sem fazer força nas muletas. Suave e coordenado. Passei a sentar com as pernas pra baixo com facilidade. E no final do dia já estava andando com uma única muleta...

Vamo que vamo!!!

D10 - Nova Etapa

Hoje voltei no médico pela primeira vez depois da cirurgia.  Achei que era só para tirar os pontos. Mas ganhei um prêmio. Tirei o imobilizador ou as "talas". Na verdade nem sei o nome daquilo. Só sei que dele me despedi. Deixei para doar para alguém que vá precisar.

Fiquei tão extasiado que esqueci de tomar todos os meus remédios a tarde. E a dor veio para me lembrar.

É impressionante como a cabeça se condiciona a proteger um membro enfraquecido. Numa hora em que movimentar é que vai fortalecê-lo. A natureza humana prefere se proteger do que se expor. Engraçado isso né. Somos voltados para a conservação e não a evolução. A evolução vem de gente que não acredita nos limites que o seu próprio cérebro impõe. Desrespeitar os limites impostos pelo cérebro com inteligência é a chave para novas descobertas e novos patamares.

O lema agora é devagar e avançar sem parar. Sempre devagar para não ter que retroceder. Acidentes e imprevistos jamais. Tudo tem que estar sob controle.

Amanhã já vou na fisioterapeuta. Mas ainda a maior parte dos exercícios vou fazendo sozinho.

Meus exercícios são:
- elevação sentado
- elevação lateral pra fora
- elevação lateral pra dentro

Sempre em 3 séries. Na seguinte sequência conforme for ficando fácil: 10 repetições sem peso, 12, 15, depois 10 repetições com 1kg, 12, 15 e depois 10 repetições com 2kg, 12 e 15. Além disso, andar na piscina com água entre o peito e o umbigo.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

D6 e 7 - O Trabalho e o Banho

Ontem foi o meu primeiro dia que consegui ir no escritório. Consegui ficar o dia todo.

No meu tipo de trabalho faz muita falta o ambiente de trabalho. Os recursos tecnológicos, as pessoas, o clima e mais outras coisas inexplicáveis. Acho que muitas vezes esses fatores inexplicáveis são a explicação do sucesso de muitas casas. Obviamente sem fazer o básico, ou seja, tomar risco, ter sorte e fazer o dever de casa nada vai pra frente.

E ainda fui jantar com meu filho. Maravilhoso. Sem necessidade de mais comentários. Meu dia ontem voou com tudo isso.

Ia tentar tomar o meu primeiro banho de chuveiro. Mas ficou tarde. Deixei pra hoje de manhã.

Muito planejamento e tensão para este momento. Tudo arrumado e organizado. Pois ia ficar em pé sem a tala pela primeira vez. E o pior sair do chuveiro sem a muleta.

Que sensação boa a da água quente correndo pelo corpo. A espuma se formando e cheiro de limpeza no ar. Muito bom.

E pra secar...ainda dei alguns passos de muletas mas sem a tala. Que aflição. No final tudo deu certo. Obrigado.

Mais um dia de trabalho!!! Que felicidade. Lá vamos nós.

domingo, 22 de setembro de 2013

D4 e 5 - Meu Filho

Durante a sexta fiquei pensando em tentar sair de casa para dar as caras no trabalho e ir ver meu filho. Pensei, liguei pro médico...ele tava operando... No final achei melhor ficar mais um dia de molho.

No final do dia até teve um entretenimento extra. Pude fazer duas mentorias para empreendedores pelo Skype. E olha que foi interessante e produtivo. Um em BH e outro em Sampa.

E mais um dia se passou rápida e lentamente.

Ontem foi um dia mega esperado e temido. Sair de casa. Depois alguns dias de cama ou de sofá, fui ver meu filho. Achei que ia sofrer pra andar mas foi tranquilo. Fui devagar e tranquilo. De novo a ajuda foi fundamental pra acalmar e baixar a ansiedade.

Que felicidade reencontrar pessoalmente meu filho. Como é importante a troca do olhar direto e contato físico. É um meio de troca que não tenho com muita gente mas com ele é forte e rico demais. Além disso conversamos, brincamos e nos agarramos. Foi bom demais.

A volta também foi tranquila. Muito gentil o motorista de taxi.

Os remédios tem me protegido da dor mais forte. Não tenho sentido nenhuma dor parado. Só doi quando fico muito tempo numa única posição ou quando fico em pé. Mas essa proteção tem um custo na saúde, além do bolso. Tenho ficado com azia e até apareceu uma afta na boca. Com ajuda da minha nutricionista agora tomo um remédio pra proteger meu estômago. O Nexium 40mg. Comecei a tomar ontem...já sumiu a afta. Esse é caro mas parece que funciona. Que bom...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

D3 - A Improdutividade

Já é sexta. Ontem foi mais um dia igual ao de anteontem. To melhorando fisicamente. É perceptível no detalhe. Mas no macro é uma rotina bem igual a dos dias anteriores. Fico na cama a maior parte do tempo. Meio sentado meio deitado. Parte do dia com gelo e parte sem gelo. E assim vai...

Tenho a minha volta várias formas eletrônicas de contato com o mundo. Laptop, tablet e celular. Todos levam a lugares semelhantes mas cada um é mais conveniente para determinadas posições. Tenho também livros e revistas à minha volta. Mas essas acabam parecendo sem graça diante dos seus competidores eletrônicos. Até mesmo as revistas e livros no ipad parecem mais sexy. Aliás isso então parece que morreu. Já voltou há algum tempo da anestesia mas segue impossibilitado de funcionar direito.

Eu um dia já achei que numa situação como a atual eu poderia ler e escrever loucamente tendo tempo que normalmente não tenho. Mas acabo sendo muito mais improdutivo. Acho que acaba sendo a falta de foco. Pois quero trabalhar. Mas não consigo fazer direito sem a interação com meus colegas. Quero limpar minha caixa de emails mas fico entediado e sonolento. Acho que o exército de analgésicos que me aliviam a dor acabam trazendo um certo entorpecimento.

Achei que em uns dois dias poderia retomar parte da minha rotina de ver meu filho e trabalhar. Talvez amanhã ou quem sabe ainda hoje.

Apesar da improdutividade o joelho que é o objeto de tratamento principal agora tá evoluindo. Se preparando pra uma longa fase que será a próxima. A fisioterapia...

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

D2 - A Evolução

Hoje foi o dia de tirar a gaze. Estava tenso pois não sabia o que veria por debaixo da minha tala. Não sabia como eram as cicatrizes. Nem o tamanho, nem o local, nem o estado delas. Dia de mais surpresas.

Após desenrolar mais de 5 metros de gaze e algodão,aparecem as cicatrizes. Não tão grandes e somente duas. Uma maior e outra bem discreta. Ambas limpas e sem inchaço. Que alívio. Junto com isso minha primeira sessão de gelo me trouxe mais um alívio.

Aos poucos a dor da circulação tem diminuído. Ainda incomoda bastante se ficar com a perna abaixada por um pouco mais de tempo.

E como é importante o apoio moral e físico para pequenas ou grandes tarefas em tempo de restrição física e dor. Definitivamente o indivíduo individual independente sobrevive mas terá uma vida pior do que um indivíduo com pessoas que o apoiam. É dividir para multiplicar. São apoios inesquecíveis.

Com isso tudo ainda doi qualquer tipo de movimentação. Mas já dá pra sentir uma evolução. Já consigo dar mais passos antes do limite da dor. Consegui passar um tempo maior sentado e trabalhando um pouco. Achei poderia me locomover para o trabalho amanhã e também ver meu filho mas com certeza não dá. Pois acho que não consigo ainda chegar ao elevador.

Vamos ver como será a evolução de amanhã.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

D1 - A Dor

Depois de uma noite surpreendentemente tranquila. Vem a maldita lição, aquela nos ensina de forma inesquecível e cruel. A dor.

Minha maior dor ainda não é nos ossos ou no joelho. Mas acho que é uma dor de circulação. Ao baixar a perna e tentar fazer um pequeno apoio parece que circula ácido pelas veias e artérias. É uma dor de localização ampla na região anterior da perna oposta à panturrilha. Engraçado né...uma área que não tem a ver com a cirurgia....aparentemente. E o alívio vem rápido desde que deite e eleve a perna (como na foto). Ou seja, mesmo em trajetos curtíssimos tipo do banheiro à cama que são uns 5 passos demoro um tempo pra fazer negociando com a dor.

O médico falou pra nunca se movimentar com a perna pendente sempre fazer um pequeno apoio no chão. É esse apoio que doi. Mas já descobri que apoiar o calcanhar doi menos do que a outra ponta. E assim vamos indo.

Meus outros aliados são os remédios. São 4 no total.  Todos contra dor. São eles: Dolamin em ciclos de 8h, Toragesic em 6h,  Bi profenid em 24h. Além do Paratram, um remédio controlado para tomar com muita dor com intervalo mínimo de 6h.

Ontem pulei o banho. E hoje vou tirar as faixas e a tala para começar o gelo. São 5x ao dia em sessões de meia hora.

No mais tenho ficado sonolento. Tenho tentado ler mas acabo dormindo. Acho que a cabeça tá comportada. Minha única ansiedade é de voltar a trabalhar logo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

D 1/2

Minha perna esquerda voltou a mexer. Ai como é bom.... E também o meu pé direito...mas o pinto...mortinho mortinho...tomara que volte um dia......ahahahh

Situação bizarra de hoje foi a seguinte: tava eu com vontade de fazer xixi mas não estava conseguindo. Aí meu filho chegou pra me ver... brincamos um monte. ..ai resolvi levantar o lençol. ...tava todo mijado.....não senti nada...e o pior tava com a bexiga cheia e com dor...e nada de conseguir mijar....até que resolvi apertar a bexiga....mais um chafariz de xixi....sem sentir nada....maior doideira. E foi assim...empurrando a bexiga que fiz meu xixi. Agora acabei de fazer um sozinho...sem empurrar a bexiga. ..ai que delicia...

Nenhuma dor ou enjôo. Um pouco de dor na lombar pelo colchão mole....

Daqui a pouco vou tentar dormir...

Sentimento de paz e sensação de ter feito a coisa certa e cheio de energia dos beijos e carinho do meu filho e das pessoas que querem o meu bem de coração.

D0

Acabei de chegar do centro cirúrgico. Pernas dormentes. Nao consigo mexer nenhum dedão do pé. Muito menos o pé. Sensação doida.

Parece que cirurgia foi boa e rápida. Um sucesso. Me lembro vagamente de tomar a anestesia raqui e uma dose extra dormonide na veia. ...não vi mais de nada.

Sigo chapadao e sonolento. Fuiiiiii

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Operação

Ao longo do tempo desde a ruptura tenho feito fisioterapia e exercícios específicos que tem me ajudado a não sentir dor e restringir as limitações de movimento impostas pelo rompimento. Assim como criar fortalecimento para uma melhor cirurgia e recuperação. Obrigado Fernanda.

Um aperitivo para o longo ciclo de fisioterapia que terei que encarar.

A data da cirurgia foi marcada. No dia seguinte do meu retorno de NY. Será numa segunda dia 16 no Samaritano. Preferia que fosse mais perto do final de semana. Mas...será no dia do que tiver que ser. Parece que o plano já aprovou tudo. Vamos ver se não teremos zica de véspera.

Por ora é isso...diretamente de dentro do avião.

domingo, 8 de setembro de 2013

Nova Viagem

Acabe nem relatando as sensações da viagem anterior...

Estou eu embarcando novamente. Agora a trabalho, mas quando se gosta do trabalho e de viajar...é mais um momento de lazer.

Desde a minha chegada da Itália muitas coisas aconteceram.

Fiquei quase uma semana com meu filho sozinho. Foi uma oportunidade que a vida me deu...mais uma surpresa.

Descobri algumas coisas...
- Poder cuidar e curtir o seu filho é algo maravilhoso é uma sensação, uma integração sensacional...uma troca indescritível.
- Viver com o filho entorpece. Se não se cuidar perde o contato com a realidade. Perde se o contato com seus próprios objetivos e motivações. Elas acabam se misturando com as do filho. E levando a perda da individualidade de ambos.

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